52 | CONCRETO & Construções
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58º CBC
entre outras. Neste sentido são propos-
tas que se inserem num contexto de
transformação do ensino de engenharia
no país e no mundo. Certamente nes-
sa transformação se inclui a evolução
paulatina da qualidade dos cursos de
engenharia no Brasil. Dados de 2014
do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (Sinae) do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-
cacionais (Inep), vinculado ao Ministério
da Educação (MEC), mostraram que
mais de 60% dos 239 cursos de enge-
nharia civil avaliados em 2014 tiveram
nota 3, enquanto apenas 25% desses
cursos tiveram nota 4 e 5. Consideran-
do apenas a nota dos alunos no Exame
Nacional de Desempenho dos Estu-
dantes (Enade), o quadro piora: quase
50% dos alunos tiraram notas 1 e 2.
“Os engenheiros profissionais atual-
mente no mercado de trabalho brasileiro
têm dificuldades com a gestão de proje-
tos, de obras e de recursos, não tem uma
boa comunicação oral e escrita, e care-
cem de liderança e de uma boa atuação
em equipes multidisciplinares”, avaliou
Tozzi.
Por outro lado, o Brasil, país por se
construir, segundo dizem os alunos na
Carta de Belo Horizonte, tem atualmente
cerca de apenas 500 mil engenheiros civis
no mercado de trabalho, com uma taxa
de apenas 2,22 engenheiros por mil habi-
tantes, bem abaixo da média mundial de
9,13, segundo dados da publicação “For-
talecimento das Engenharias”, publicado
em 2015 pela organização Mobilização
Empresarial pela Inovação (MEI).
Os dados das pesquisas revelam
que o país precisa de mais e melhores
engenheiros civis.
MESA-REDONDA
No final das apresentações, os pa-
lestrantes juntaram-se aos professores
Eliana Monteiro, Paulo Helene, Luiz Pru-
dêncio, presentes no auditório, ao aluno
Vinícius Caruso e aos coordenadores do
Seminário sobre Ensino de Engenharia
Civil, César Daher e Luís César De Luca,
numa mesa-redonda para debater, com
o público presente, as ações para ala-
vancar o ensino de engenharia civil no
Brasil. Das discussões surgiram as se-
guintes propostas gerais:
u
Necessidade de mudanças nas es-
truturas curriculares das instituições
de ensino superior, implementadas
por meio de programas de rees-
truturação que abram espaço para
sondar os interesses dos alunos e
ex-alunos, que procurem eliminar,
onde possível, os pré-requisitos para
cursar disciplinas e que enfatizem a
área de detalhamento de projetos;
u
Adoção de novas metodologias de
ensino-aprendizagem, que façam
com que o aluno deixe de ser o
O
Brasil é um país por se construir. Seu desenvolvimento interessa
a cada cidadão. Dado o verbo que se usou (construir), parte dos
desafios que devem ser enfrentados diz respeito à infraestrutura.
Há os entraves de mobilidade urbana; déficit habitacional; saneamento
básico e a problemática da geração de energia.
O objetivo deste manifesto não é o de enfocar esses problemas.
Mas o de discorrer sobre um fato, unânime: para o enfrentamento
dessas questões, o Brasil precisa de Engenharia Civil. O Brasil precisa
de bons Engenheiros Civis. Para tanto, vamos direto ao ponto: a evasão
nos cursos de engenharia. Muito se fala a respeito, pouco se faz. A
maioria das falas atribui o problema ao frágil Ensino Médio. Pouco se
fala da desmotivação dos alunos. As Escolas de Engenharia raramente
conseguem sair do trinômio sala de aula/listas de exercícios/provas.
Entendemos que a prática da Engenharia é muito mais do que isto.
A sala de aula imobiliza, torna o aprendizado passivo. Provas
são método de avaliação questionável. Como instrumento estatístico,
as chances de erro são grandes: seja por sua má formulação, seja
pelo preparo inadequado por parte dos alunos ou por problemas
emocionais deles. Oportunamente, deve-se lembrar que engenheiros
civis não são contratados para fazer provas, mas fazer projetos, obras
ou atividades relacionadas a esses processos.
Vivemos no século XXI, no qual a informação exerce predominância.
Frações de segundos são suficientes para que uma enxurrada de dados
apareçam. Os estudantes são ágeis, impacientes, questionadores.
O conteúdo dado no curso deve ser absorvido na maior proporção
possível. É preciso que ocorra a síntese do conhecimento, englobando
todas as áreas da engenharia, e que as atividades extrapolem o
momento da exposição em sala de aula ou a realização de exercícios,
repetidos e mecânicos. É importante deixar claro que esses são
processos indispensáveis para a construção do conhecimento, mas não
podem ser os únicos. É necessário preparar o aluno para manter postura
ativa frente aos desafios profissionais. Fazê-lo sedento pela descoberta
do conhecimento, da lógica dos processos, da resolução de problemas.
O engenheiro é prático. Dessa maneira, trabalhar a teoria sem
apontar aonde ela será aplicada é um erro. Sempre que possível,
esta ação deve acontecer in loco, por meio do contato com situações
e ambientes reais. É de grande importância privilegiar na grade
curricular a visão de empreendimento: porque e como se identifica
a necessidade de uma intervenção de engenharia, como se projeta,
como se executa/fiscaliza a obra, como recursos são captados/geridos
para sua viabilização, e como se dão os processos que envolvem
tópicos jurídicos e ambientais.
C A R TA D E B E L O H O R I Z O N T E | E n g e n h a r i a