CONCRETO & Construções | 19
A GEOMETRIA
DESCRITIVA ME
DESPERTOU A VONTADE
DE APRENDER, AO INVÉS
DE TER QUE ESTUDAR
IBRACON
– C
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nos
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E
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P
orto
D
uarte
– No início, eu
queria ser jogador de vôlei. A prática
do vôlei me dava um retorno rápido,
tanto em relação à técnica de jogar
quanto em relação ao preparo físico.
Deste modo, não tinha muito interesse
pelas aulas, não fui um bom aluno até
o ginásio. Mas, no científico, vieram
as matérias mais ligadas à prática, às
carreiras profissionais, que chamaram
minha atenção. Na disciplina de
geometria descritiva, eu, quase o último
aluno na turma, entendia tudo o que
o professor falava, enquanto os outros
colegas de classe tinham dificuldade
para entender. E este envolvimento
com a geometria descritiva, que
muito me ajudou na profissão que
exerço, seja na visualização mental
das coisas no espaço , seja na
contribuição com minha habilidade
no desenho (o croqui que desenho é
facilmente compreendido por todos),
foi o que mais me motivou na escolha
da engenharia civil. A geometria
descritiva me despertou a vontade
de aprender, ao invés de ter que
estudar, atividade esta que carrega a
obrigatoriedade de aceitar e repetir, em
oposição àquela que traz a vontade de
observar e entender. A partir daí veio o
interesse pelas outras matérias: física,
matemática, química etc. E de último
aluno me tornei uns dos primeiros da
turma. A ponto de um diretor do colégio
espiar quando eu fazia prova para
tentar me pegar colando.
Quando passei em engenharia civil na
PUC do Rio de Janeiro, em 1968, o
reitor veio até mim e me disse: “Eu não
precisei fazer você passar, você passou
por seu mérito!”. Isto porque a PUC-RJ
tinha a filosofia das universidades norte-
americanas de buscar profissionais de
esporte que despontavam, facilitando
seu acesso na universidade, para
integrar no seu corpo discente o
desenvolvimento físico e mental.
O gostar de aprender tornou-se tão
crescente em mim que, no terceiro
ano da faculdade, fiz monitoria na
disciplina de hiperestática. E terminei
a faculdade de cinco anos, em quatro.
Neste período, eu tive dois grandes
professores, um deles foi o que me
levou a fazer monitoria em hiperestática,
que foi o Domício Moreira Falcão,
professor da PUC e do IME. No final
do curso de sua disciplina, ele me
convidou a ser monitor. Ele me disse:
“Neste período das férias de meio de
ano leva os meus apontamentos de
aula e pensa sobre a proposta”. Os
apontamentos eram tão brilhantes,
que o José Carlos Sussekind, seu
aluno numa turma anterior e também
convidado para ser monitor na
disciplina, aproveitou e, tempos depois,
escreveu seu brilhante livro sobre
hiperestática. Ao iniciar o semestre
letivo, disse ao Domício: “Gostei muito
de seus apontamentos e vou me
aprofundar no assunto, mas, creio,
que dar aulas não é para mim. Eu
não sei ensinar!”. Ele malandramente
retrucou: “Seu Evandro, respeito o
que você está dizendo, mas estou
com um sério problema hoje: vou ter
uma reunião como reitor da faculdade
no horário da minha aula. Vai lá e dá
essa primeira aula; depois não insistirei
mais com você!”. Fui, dei a aula e saí
sem convencimento de que eu tinha
dado uma boa aula. Ao expor isso ao
Domício, ele me respondeu: “Na minha
primeira vez como professor, um aluno
disse, quando eu estava virado para
o quadro-negro, que se aquilo era dar
aula, ele seria também capaz de dar!”.
Aquela frase me convenceu a aceitar
a monitoria e a exercer a profissão de
professor por 40 anos, aposentando-
me como professor das disciplinas de
hiperestática e de concreto protendido
na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ).
Outro grande professor deste período
foi o Bruno Contarini, porque foi o
professor da prática, que mostrava
como aplicar a teoria. Da mesma
forma que o professor de geometria
descritiva abriu minha mente para
visualizar as coisas no espaço, o
Bruno iluminou minha mente sobre o
concreto protendido, mostrando como
o protendido concilia a teoria com a
“