CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 107
(ACM) usado no revestimento do
Grenfell Tower. A empresa afirmou
na imprensa que foi pedido o reves-
timento Reynobond PE, que é mais
barato do que a alternativa Reyno-
bond FR, que é resistente ao fogo.
Outra empresa, a Harley Facades,
confirmou ainda que instalou os
painéis mais baratos, adquiridos da
Omnis Exteriors, no edifício. A Om-
nis, por sua vez, confirmou que ven-
deu revestimento ACM para a Harley
Facades, a empresa responsável
por instalar o material composto de
alumínio. A construtora Rydon foi a
empreiteira principal do projeto de
reabilitação. Esta empresa subcon-
tratou os trabalhos a outras entida-
des, incluindo a Harley Facades. Há
algumas informações desencontra-
das na mídia, mas acredita-se que
a remodelação da edificação custou
algo em torno de 10 milhões de eu-
ros. Resultado de tudo isso: o produ-
to foi retirado de comercialização do
mercado de todo o mundo.
O mais chocante em tudo isso é
o número assustador de vítimas fa-
tais do Grenfell Tower. Os números
mais atualizados reportam mais de
80 mortos e 70 feridos, mas há ainda
muitos desaparecidos. O maior pro-
blema é que, segundo informações
iniciais, havia residentes sem docu-
mentação, imigrantes e refugiados,
o que dificulta até saber as pesso-
as que de fato estavam no local no
momento do incêndio. Grupos de
moradores estimam pelo menos 120
vítimas fatais.
O mais impressionante é que es-
pecialistas já alertavam sobre irregu-
laridades e problemas de segurança
na edificação, inclusive o governo do
Reino Unido é acusado de ignorar es-
ses alertas. Estima-se que pelo me-
nos 600 prédios da Inglaterra possu-
am o mesmo tipo de revestimento do
Grenffel Tower. Na Alemanha e nos
Estados Unidos, o uso do material já
estava proibido desde 2015.
Apesar de no Brasil haver um his-
tórico muito triste relacionado com
vítimas fatais em incêndio, infeliz-
mente os chamados painéis de com-
posto de alumínio são amplamente
utilizados em edificações. Segundo
o especialista em proteção passiva
contra o fogo Jeffery Lin, da CKC
do Brasil, existem muitos fabricantes
e modelos disponíveis no mercado,
alguns deles atendem às exigências
locais de segurança contra incêndio,
porém outros são altamente com-
bustíveis e propagadores de cha-
mas, os quais não são seguros para
uso em edificações, principalmente
nas mais altas.
Lin complementa ainda que é
fundamental que, durante o proje-
to das edificações ou de retrofit, os
materiais escolhidos como revesti-
mento interno e externo possuam
baixa propagação de chamas, e nos
ambientes internos a baixa emissão
de fumaça. Essas propriedades de-
vem ser devidamente comprovadas
através de ensaios e certificações de
laboratórios de fogo competentes e
acreditados. A exemplo dos painéis
de alumínio composto, existem retar-
dantes de alta performance que são
utilizados durante o processo produ-
tivo, melhorando seu desempenho
em situação de incêndio.
Entenda-se que um dos elemen-
tos aceleradores da propagação de
chamas nas fachadas, assim como
no Grenffel Tower, é o túnel de ven-
to criado entre a alvenaria do edifício
e os painéis, sugando consequen-
temente as chamas para os pavi-
mentos superiores. A utilização de
sistemas de firestop para minimizar
a propagação de chamas aumenta-
ria o tempo para evacuação. Ainda,
caso os painéis instalados sejam de
alta propagação de chamas, a remo-
ção dos mesmos seria a melhor al-
ternativa, a exemplo do que foi feito
nos Emirados Árabes, onde que está
proibida sua utilização para novas
edificações, e que determinou sua
remoção nas edificações altas, des-
taca Lin.
Nesse contexto o Prof. Dr. Valdir
Pignatta Silva, expoente na Seguran-
ça contra Incêndio no Brasil, publi-
cou um livro excelente, já divulgado
anteriormente na Revista do IBRA-
CON: “Segurança Contra Incêndio
em Edifícios. Considerações Para o
Projeto de Arquitetura”, cujo obje-
tivo é o de fornecer conceitos liga-
dos exatamente à segurança contra
incêndio, com ênfase na proteção
passiva e compartimentação, frisan-
do os aspectos a serem previstos
no projeto.
Finalmente, uma das informações
que chama a atenção na mídia é que
a tragédia do Grenfell Tower só não
teve maiores proporções porque a
estrutura da edificação foi constru-
ída 100% em concreto, suportando
altas temperaturas e preservando
as armaduras, sem causar o seu
desabamento.
Quer saber mais sobre assunto?
Então fique atento, pois o IBRACON
está mobilizando uma grande equipe
de especialistas para numa edição
futura tratar do assunto de Incên-
dio em Estruturas de Concreto com
profundidade: principais centros de
pesquisas, normalização, instruções
técnicas do Corpos de Bombeiros,
legislação e muito mais!