Revista Concreto & Construções - edição 82 - page 7

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editorial
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á meses atrás o Comitê Editorial desta Revista
decidiu dedicar esta edição ao tema de Reforço
e Reabilitação de Estruturas. Coincidência cruel
do destino fez ocorrer neste momento o colapso
parcial da Ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro,
na tarde do dia 21 de abril, com a morte confirmada de duas
pessoas, entre elas um engenheiro.
O trágico ocorrido põe em xeque a capacitação técnica do
poder público para gerir o processo de contratação e fisca-
lização; questiona, uma vez mais, o papel do sistema CREA/
CONFEA; escancara a fragilidade da engenharia nacional ao
país; e, abala a credibilidade desta no exterior.
As críticas começam na concepção ou projeto básico, ao se
verificar que, segundo o Manual de Projeto Geométrico de Tra-
vessias Urbanas do Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR),
publicado em 2009, as ciclovias de mão dupla devem ter lar-
gura aconselhável de 3m, sendo admitido, no mínimo 2,4m. O
referido Manual não contempla circulação de pedestres junto
com ciclovia de duas mãos. Como explicar que a Ciclovia Tim
Maia tenha apenas 2m de largura, seja de mão dupla e tam-
bém se destine a pedestres?
Acidentes anteriores de grandes proporções, como o colapso
da Estação Pinheiros do METRO de São Paulo e o de bar-
ragens de rejeitos em Minas Gerais, têm demonstrado a insu-
ficiente capacitação dos quadros técnicos do serviço público,
paulatinamente desmobilizados, privatizados ou terceirizados.
Em recente incêndio ocorrido em viaduto urbano, uma comissão
técnica, constituída pelas Entidades líderes do setor (IBRACON,
ABECE e ALCONPAT), pode constatar a reduzida equipe de ser-
vidores públicos, teoricamente responsáveis pela gestão dos inú-
meros viadutos e pontes da cidade de São Paulo. Felizmente uma
capacitada equipe de profissionais pode auxiliar o poder público e
a estrutura será não apenas reforçada, mas também reabilitada.
Detalhes sobre esse projeto são apresentados nesta edição.
Por outro lado, não parece razoável que a segurança, qualidade
e durabilidade dos projetos e obras, devam ser tão dependen-
tes de uma Fiscalização pública. A função precípua da adminis-
tração pública é ser proba, ética, capaz, enxuta e eficiente. O
mesmo também vale para o setor privado, quando contratado
pela Administração. A segurança em si da obra é de responsa-
bilidade exclusiva do con-
tratado, assim como ele
deve executar a obra com eficiência e rigor, seguindo as normas
técnicas e as regras de bem construir.
O ideal é reduzir o peso do setor público e não tem sentido jogar
sobre ele a responsabilidade pela fiscalização da qualidade dos
projetos e obras. Uma vez colocado à disposição da Engenharia
os recursos necessários à realização de projetos e obras, o re-
sultado, o produto final entregue à sociedade, deve ser seguro,
durável e de qualidade compatível à expectativa.
A profissão do engenheiro é considerada de “Confiança Públi-
ca”, assim como a de um médico. Nossos clientes, a socieda-
de, acreditam que faremos obras seguras e duráveis, ou seja,
a sociedade confia ao comprar um apartamento para morar
com sua família, ou transitar sobre um viaduto. Presume que
aquela obra foi projetada e construída com segurança, assim
como confia na medicação receitada por um médico. É incon-
cebível trair essa confiança precípua.
Junto com a ABECE e ALCONPAT, nosso Instituto criou, em
2014, o Programa Nacional de Redução de Riscos e Aumento
da Vida Útil de Estruturas de Concreto, também conhecido
como Programa Edificação + Segura, oferecendo curso de ca-
pacitação na arte de inspeção, vistoria, diagnóstico e correção
de problemas patológicos.
Inscrever-se e participar desse Curso não é obrigatório, e,
depende da consciência dos engenheiros e arquitetos e das
empresas do setor (públicas e privadas), assim como da auto-
crítica de cada um com relação a seu saber. Da mesma forma
é importante se juntar, voluntariamente, a Congressos, Reu-
niões, Cursos, Comitês Técnicos e Eventos, além de adquirir
e produzir publicações, exigir Certificação de mão de obra.
Enfim, é fundamental participar ativa e positivamente desse
movimento de crescimento do conhecimento.
Será que basta estar presente às atividades do IBRACON? Infeliz-
mente a história e as más ocorrências têmdemonstrado que
não.
É preciso um maior controle da habilitação profissional por par-
te do CREA/CONFEA, que não pode habilitar na formatura, e
de forma vitalícia um profissional, e, também não deveria con-
ferir as mesmas habilitações a profissionais recém-formados e
a engenheiros sêniores.
Será que a Engenharia
está, de fato, aprendendo
com os acidentes?
Caro leitor,
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