Revista Concreto & Construções - edição 80 - page 39

CONCRETO & Construções | 39
portamento de misturas com altos teo-
res de cinza volante, onde 40% e 60%
do volume do cimento Portland é subs-
tituído por cinza volante ou por cinza
volante em conjunto com outros mate-
riais, tais como o fíler calcário (material
fino com tamanho médio de 0,7 µm e
resultante da moagem de calcário) ou
as nanopartículas (partículas menores
que 100 nm, que incluem silicatos, alu-
minosilicatos ou C-S-H).
Os resultados das pesquisas indi-
cam que com o uso de 10 a 15% (em
volume) de fíler calcário e a diminuição
da relação água/materiais cimentícios
(em comparação com as mistura sim-
ples), podem ser obtidos resistências
iniciais e aos 28 dias e tempos de
pega satisfatórios. Nos casos de subs-
tituição de 60% do volume do cimento
Portland, observa-se que também é
necessária a substituição do cimento
Portland por cimento de alta resistên-
cia inicial para que se atinja uma resis-
tência a 1 dia aceitável. O fíler calcário,
além de fornecer superfícies adicionais
para a precipitação de produtos de hi-
dratação, reduz a porosidade capilar,
refinando os poros, e reduz a condu-
tividade da água dos poros, aumen-
tando significantemente a resistividade
das misturas.
Nas pesquisas com nanopartículas,
a cinza volante é substituída por 1% de
nanosílica, ou de nanobohemita, ou de
nanoaluminosilicatos, ou 3% de nanosíli-
ca, ou 1.5 e 3% de C-S-H. Os resultados
quanto à pega foram bastante dispersos,
dependendo do tipo de nanopartícula e
de cinza volante usadas: em alguns ca-
sos havendo aceleração de pega e, em
outros, retardando ainda mais a pega do
concreto.Com relação aos resultados
dos ensaios de resistência à compressão
das misturas com nanopartículas, não há
melhoria significativa da resistência a 1
dia quando comparada à mistura binária
(cimento Portland e cinza volante) e , em
alguns casos, há uma piora da resistên-
cia aos 28 dias.
“Quando trabalhamos com concre-
tos que possuem pouco ou nenhum
cimento Portland, o comportamento
do material pode não ser o tradicio-
nalmente esperado. Neste caso, será
preciso aplicar novos ensaios para sua
caracterização e para a previsão de seu
comportamento ao longo do tempo”,
concluiu Tanesi.
Com relação às pesquisas que vi-
sam aumentar a durabilidade do con-
creto, o TFHRC tem estudado desde
2002 o concreto de ultra-alto desem-
penho (ou concreto de pó reativo),
concretos compostos por altos teores
de materiais cimentícios e por baixas
relações água/materiais cimentícios,
que, por seus excelentes resultados em
termos de desempenho e durabilidade,
têm sido usados em obras, principal-
mente em conexões de elementos pré-
-moldados em pontes.
A caracterização mecânica, estru-
tural e de durabilidade do concreto de
ultra-alto desempenho tem apontado
bons resultados, como mostrados na
Tabela 1, o que é promissor para seu
maior uso nas construções.
“A durabilidade é o principal parâme-
tro para a sustentabilidade das constru-
ções. Uma obra durável é econômica,
requerendo menos dinheiro para sua
manutenção. É socialmente favorável,
por não ter impacto no tráfego de ve-
ículos decorrente de manutençãoe por
ter menos impacto ambiental, devido ao
aumento da vida útil, diminuindo a ne-
cessidade de reabilitação e/ou recons-
trução e, consequentemente, do uso de
recursos naturais”, ressaltou Tanesi.
A pesquisadora fechou sua apresen-
tação com a observação de que, apesar
de ainda não termos uma infraestrutura
sustentável de concreto – tema de sua
palestra -, as soluções propostas são
promissoras e precisam cada vez mais
sair dos laboratórios para os canteiros
de obras. “Por isso, eventos como o 57º
Congresso Brasileiro do Concreto são
tão importantes, sendo meios para que
as ideias e os resultados dos laborató-
rios de pesquisa cheguem aos profis-
sionais diretamente envolvidos com as
construções”, concluiu.
Mais informações, inclusive a apresen-
tação de Jussara Tanesi, podem ser en-
contradas no site
u
Tabela 1 – Resultados dos ensaios mecânicos e de durabilidade com o concreto
de ultra-alto desempenho
Resistência à compressão
125 -240 MPa
Módulo de elasticidade
42-55 GPa
Coeficiente de fluência
0.3-0.8
Capacidade de tração sustentada
6-10 MPa
RCPT
20-350 C
Resistência ao gelo-degelo
RDM>95%
1...,29,30,31,32,33,34,35,36,37,38 40,41,42,43,44,45,46,47,48,49,...164
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