Revista Concreto & Construções - edição 80 - page 65

CONCRETO & Construções | 65
impedindo sua corrosão. No entanto,
quando íons de carbono ou de cloreto atin-
gem o aço, eles destroem este filme, o que
expõe o aço ao ar e à umidade presente no
ambiente, levando a reações de corrosão.
Com isso, há uma perda continuada da se-
ção do aço, por um lado, o que acarreta
a diminuição progressiva da capacidade
portante da estrutura e, por outro lado, há
uma perda da aderência entre o aço e o
concreto, levando a fissurações no concre-
to, o que intensifica a frente de ataque ao
aço, num círculo vicioso.
Para ilustrar o processo Andrade
comentou o estado das marquises do
Maracanã antes de sua reforma. Apesar
de não apresentarem fissuras visíveis, ti-
nham suas armaduras corroídas, haven-
do seções em que a armadura tinha sido
totalmente desgastada pela ação do am-
biente, o que comprometia a segurança
estrutural do estádio, de modo que tive-
ram que ser demolidas e reconstruídas
quando da renovação do estádio para os
jogos da Copa de 2014.
Tendo em vista a durabilidade das
estruturas de concreto, as normas de
projeto prescrevem especificações para
o concreto conforme o ambiente a que a
estrutura estará exposta. Entre as especi-
ficações mais conhecidas estão a relação
água/cimento, a quantidade de cimento
no concreto, a resistência mecânica do
concreto e a abertura máxima das fissu-
ras, fatores direta ou indiretamente relacio-
nados com sua durabilidade. Por exem-
plo, um concreto menos permeável, com
menos poros, que pode ser obtido por
meio de uma baixa relação água/cimento
no momento de sua dosagem, dificulta a
entrada de agentes agressivos ao aço e,
por isso, contribui para aumentar sua vida
útil. Outra especificação relacionada com
a durabilidade da estrutura, não relacio-
nada com a qualidade do concreto, mas
com a qualidade da execução das estru-
turas de uma obra, diz respeito ao cobri-
mento da armadura, pois, quanto maior
este cobrimento, maior é a barreira que
deve ser transposta pelos agentes agres-
sivos para atingir o aço. Por isso, os proje-
tos estruturais trazem a cobertura mínima
a ser seguida na execução da estrutura.
Essas especificações tradicionais rela-
tivas à durabilidade são prescritivas, sen-
do requeridas no projeto e devendo ser
atendidas na execução. No entanto, elas
só podem ser garantidas efetivamente
pelo construtor por meio de um controle
tecnológico rigoroso da construção, nem
sempre presente. Em razão disso, o pas-
so seguinte na busca por uma construção
mais durável, segundo a pesquisadora,
consiste em se criar modelos matemáti-
cos e ensaios experimentais capazes de
predizer a vida útil de uma estrutura com
base nos dados extraídos da própria es-
trutura. Tal como se assegura a seguran-
ça estrutural de uma obra por meio de um
ensaio de resistência à compressão aos
28 dias, almeja-se padronizar ensaios ex-
perimentais e modelos teóricos capazes
de assegurar a durabilidade e a vida útil
de uma construção. Neste caso a durabi-
lidade não estaria apoiada em requisições
prescritivas, mas em indicadores de de-
sempenho da estrutura, como, por exem-
plo, sua porosidade, sua permeabilidade
ao ar, sua permeabilidade à água a baixa
pressão e sua resistividade elétrica, ou
seja, propriedades do concreto de uma
estrutura que permitem caracterizar sua
durabilidade e vida útil.
Para ilustrar um desses ensaios, An-
drade explicou o teste da American Socie-
ty for Testing and Materials (ASTM 1202),
que correlaciona a resistividade elétrica do
concreto, uma grandeza relacionada com
a corrente elétrica que percorre um corpo
de prova cilíndrico de concreto, com o ní-
vel de corrosão da armadura, e explicou
como o modelo teórico-matemático no
qual ele se baseia deve ser aperfeiçoado,
Auditório lotado durante as palestras dos professores Carmen Andrade e Odd Gjorv
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