O 60º Congresso Brasileiro do Concreto, evento técnico-científico promovido pelo Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON), foi realizado de 17 a 21 de setembro, no Centro de Convenções do hotel Recanto Cataratas, em Foz do Iguaçu, no Paraná.
O evento contou com 1189 inscritos entre estudantes, pesquisadores, professores, engenheiros e profissionais técnicos de escritórios de projeto, laboratórios, construtoras, empresas de energia, fabricantes de equipamentos e componentes do concreto, concreteiras, indústria de pré-fabricação, órgãos governamentais e associações.
O 60º CBC teve a participação de estudantes e profissionais de quase todos os estados brasileiros e de 15 países. O estado com maior número de inscritos foi São Paulo, seguido por Rio Grande do Sul e Paraná. Por sua vez, Paraguai, Portugal e França foram os países com maior número de participantes estrangeiros.

O objetivo do Congresso Brasileiro do Concreto é divulgar as pesquisas científicas e tecnológicas sobre a tecnologia do concreto e seus sistemas construtivos, desenvolvidas nas universidades, institutos e empresas, nacionais e estrangeiras.

De um total de 2264 resumos submetidos, foram recebidos 1282 artigos, sendo 998 aprovados pela Comissão Científica do 60º Congresso Brasileiro do Concreto, formada por 208 profissionais. Dos artigos aprovados, 699 foram apresentados no 60º CBC em sessões orais, pecha kucha (sessão na qual os autores apresentam 20 slides com 20 segundos cada) e pôsteres. Materiais e suas propriedades foi o tema com maior número de artigos, seguido pelos temas “Análise estrutural” e “Sustentabilidade”. Outros temas apresentados no evento foram gestão e normalização, projeto de estruturas, métodos construtivos, materiais e produtos específicos, sistemas construtivos específicos e ensaios não destrutivos.

Na avaliação feita pelo presidente do IBRACON, Eng. Julio Timerman, na solenidade de abertura, “os números corroboram ser o Congresso Brasileiro do Concreto o maior evento nacional de discussões sobre o concreto e seus sistemas construtivos, ao bater em sua sexagésima edição os recordes das edições anteriores”.

“É o fórum onde se celebra a tecnologia e o conhecimento sobre o concreto, material construtivo mais consumido no mundo”, resumiu a professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Profa. Edna Possan, integrante da comissão organizadora regional.

Premiações

Na ocasião da abertura do 60º CBC foram homenageados alguns profissionais que têm contribuído para o desenvolvimento técnico e científico do concreto e com as atividades do IBRACON. Foram premiados: Alio Ernesto Kimura (TQS Informática), como destaque em engenharia estrutural; César Zanchi Daher (Daher Consultoria e Tecnologia), como destaque em engenharia no Paraná; Carlos Alberto Gennari (Leonardi Construção Industrializada), como destaque em engenharia de projeto e construção em concreto de alto desempenho; Vanderley Moacyr John (Poli-USP), como destaque em pesquisa em concreto e materiais constituintes; e Paulo Bruna, como destaque em arquitetura de concreto.

Uma dissertação de mestrado na área de estruturas (“Estudo de conectores de cisalhamento em barras de aço para vigas mistas de aço e concreto”) e outra na área de materiais (“Influência da temperatura e pressão na hidratação e desempenho mecânico de pastas para concreto de ultra-alto desempenho”) foram premiadas no evento. O artigo “Modificação da microestrutura de matrizes cimentícias devido à adição de nanossílica” foi considerado o melhor artigo apresentado no evento.

Concursos estudantis

Durante o evento foram realizadas cinco competições estudantis, com participação de 700 estudantes de 36 instituições de ensino: os concursos Aparato de Proteção ao Ovo (APO), Concrebol, Concreto colorido de alta resistência (Cocar), Ousadia e Concreto: quem sabe faz ao vivo. As premiações das três equipes melhor colocadas nesses concursos foram realizadas no jantar de confraternização, que encerrou o evento. Os concursos estudantis são uma atividade das edições do Congresso Brasileiro do Concreto que integra a futura geração de engenheiros civis com os profissionais fundadores e associados ao IBRACON desde 1972, ano de fundação do Instituto. Na avaliação da diretora de atividades estudantis, Eng. Jéssika Pacheco, é uma atividade essencial do Instituto para a continuidade de sua missão.

Cursos de atualização profissional

Foram realizados ainda cinco cursos do Programa Master em Produção de Estruturas de Concreto (Master PEC) do IBRACON: desempenho aplicado às estruturas de concreto armado; reforço com fibras de carbono; reforço de pilares em concreto armado; o fenômeno térmico do concreto massa; e concreto protendido. E dois cursos sobre barragens: análise estrutural e reabilitação de barragens e vertedouros; e pequenas barragens.

Feibracon

As empresas do setor construtivo puderam expor seus produtos e serviços, bem como estreitar relacionamentos, na XIV Feira Brasileira das Construções em Concreto (Feibracon), que contou com 10 patrocinadores (Itaipu Binacional, Votorantim Cimentos, Lafarge Holcim, Eletrobrás Furnas, Capes, GCP, Cimento Apodi, Cimento Nacional, Copel e Intercement) e 15 expositores.

Profissionais e estudantes visitam os estandes na Feibracon

Conferências plenárias

Os destaques na programação, com recorde de público, foram as conferências plenárias de pesquisadores estrangeiros e os seminários sobre assuntos atuais e controversos.

O pesquisador do Centro de Pesquisas e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional (Cinvestav – IPN, México), Pedro Castro, apresentou os estudos mais recentes para o entendimento dos perfis de cloretos nas peças de concreto armado e que vêm contribuindo para elaboração de modelos preditivos cada vez mais acurados de difusão de cloretos nas estruturas de concreto.

Ian Richardson, pesquisador da Universidade de Leeds (Inglaterra), abordou o mecanismo físico-químico de formação e distribuição dos produtos hidratados do principal componente do cimento (C-S-H) e como os materiais cimentícios suplementares, constituintes dos cimentos compostos, como a escória granulada de alto forno, interferem na reação de hidratação e no tipo de morfologia dos compostos formados. Sua exposição procurou lançar luz sobre a plausibilidade de modelos nanoestruturais atualmente propostos das reações de hidratação do cimento.

O professor da Universidade Nacional do México, Roberto Stark, apresentou estudos para embasar sua tese de que o concreto é o material construtivo do futuro. Nesses estudos ele mostrou que as estruturas de concreto têm custo menor por metro quadrado e melhor comportamento sob ação do vento e de sismos em relação às estruturas de aço. Segundo ele, é por isso que desde 1980 tem havido uma transição progressiva do uso do aço para o uso do concreto na construção de prédios altos, ao mesmo tempo em que as edificações de aço têm diminuído de tamanho ao longo dos últimos anos.

Profs. Pedro Castro, Ian Richardson e Roberto Stark palestrando no 60º CBC

Por sua vez, apresentaram-se na Dam World 2018 como conferencistas os especialistas: o Eng. Carlos Alberto Matias Ramos, secretário de pesquisas do LNEC, que apontou como o desenvolvimento tecnológico da construção de barragens tem impactado econômica, social e ambientalmente esses projetos; o Eng. Desmond Hartford, pesquisador na BC Hydro, companhia canadense de energia elétrica, que abordou os métodos de análise e interpretação de dados para avaliação da segurança das barragens da companhia; o Eng. Étore Funchal de Faria, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Segurança de Barragens do Parque Tecnológico de Itaipu, que apresentou os trabalhos realizados na área de segurança e manutenção da usina de Itaipu desde a sua construção; e o Eng. Oscar Machado Bandeira, superintendente de construção e coordenador dos trabalhos de segurança da barragem da Usina de Belo Monte, que apresentou os desafios e os feitos da engenharia brasileira de barragens na construção da usina.

No balanço feito pelo diretor de eventos do IBRACON, Prof. César Henrique Daher, que participa das edições do Congresso Brasileiro do Concreto desde 1997, quando era ainda estudante de engenharia civil, “o evento é oportunidade para os estudantes e profissionais da engenharia civil conviver com as referências da cadeia produtiva do concreto e aprender com eles”.

Seminário sobre Segurança contra Incêndio

A segunda edição do Seminário sobre Segurança de Estruturas em Situação de Incêndio, motivada pelo colapso do edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo, em maio último, após 10 anos da primeira edição, buscou trazer informações sobre o comportamento do concreto em situação de incêndio. Coordenada pela Profa. Ângela Graeff (UFRGS) e pelo Prof. Rogério Antocheves de Lima (UFSM), foram abordados os conceitos de compartimentação térmica (Prof. Valdir Pignatta e Silva, da USP), as pesquisas realizadas nas universidades brasileiras sobre resistência ao fogo (Prof. Bernardo Tutikian, da Unisinos, e Prof. Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, da UFRGS), os tipos de proteção passiva e seu desempenho (Eng. Carlos Britez, da Britez Consultoria), o comportamento das estruturas de concreto pré-moldado em situação de incêndio (Prof. Marcelo de Araújo, da UFSCar); e dois estudos de caso: o incêndio e o colapso do edifício Wilton Paes de Almeida (Prof. Paulo Helene, da PhD Engenharia) e o incêndio, a inspeção e a recuperação do Centro Administrativo de Goiás (Prof. Enio Pazini, da UFG).

Prof. Bernardo Tutikian durante sua palestra no Seminário

Seminário sobre Controle Tecnológico

O Seminário sobre Laboratórios na Garantia da Qualidade do Concreto e Construção, promovido conjuntamente pela ABRATEC (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Construção Civil) e IBRACON, debateu como assegurar a qualidade das estruturas de concreto das obras por meio do controle tecnológico de seu material. Ambos os expositores (Prof. César Henrique Daher, do IDD, e Eng. Egydio Hervé Neto, da EHN Engenharia e coordenador do Seminário) ressaltaram que o controle tecnológico do concreto não se resume à aferição da resistência característica à compressão de corpos de prova (fck), mas deve visar a outros ensaios e aferições, como módulo de elasticidade, avaliações doposicionamento e cobrimento de armaduras, processos de adensamento, excentricidade estrutural, cura,  bem como, outros estudos a depender do tipo de estrutura a ser construída e do ambiente onde será inserida, ressaltando a importância da participação do engenheiro tecnologista ainda na fase de concepção estrutural. Ao final das exposições, foi formada uma mesa-redonda com representantes de diferentes segmentos da construção (Jorge Batlouni Neto, Tecnum Construtora; Jefferson Dias, da Abece; Raphael Holanda, da Holanda Engenharia, Roberto Bauer, do Grupo Falcão Bauer, e Gilberto Giuzio, da Abratec; Jairo Abud, da Abesc), mediada pelo Prof. Enio Pazini (UFG). Diversos temas permearam as discussões, como os requisitos e procedimentos para acreditação dos laboratórios no Inmetro, a não conformidade de concretos dosados em central ser erro de sua fabricação ou erro de ensaio de rompimento de corpo de prova, a ausência de estudos térmicos para concretagens de grandes volumes levando a fissuração das estruturas recém-concretadas, a importância da escolha de empresas idôneas na cadeia de suprimentos da construção, certificação de concreteiras, variação sazonal na composição de cimentos pozolânicos acarretando problemas de concretagem, entre outros.

Prof. César Daher em sua palestra no Seminário

Mesa-Redonda de temas controversos

A Mesa-Redonda “Centrais Dosadoras x Centrais Misturadoras”, coordenada pelos professores Bernardo Tutikian e Maira Janaína Ott (Unisinos), buscou discutir as vantagens e desvantagens técnicas e econômicas entre as centrais dosadoras e misturadoras. Segundo os coordenadores, as centrais dosadoras, que fazem a mistura dos componentes do concreto no caminhão betoneira, durante seu transporte da central para a obra, são maioria no Brasil. Já, as centrais misturadoras, além da dosagem do concreto, fazem também a mistura de seus componentes ainda na central, num misturador planetário, sendo o tipo usado em fábricas de concreto pré-fabricado. Nos debates houve algumas polarizações. O Prof. Paulo Helene (PhD Engenharia) argumentou que, do ponto de vista do engenheiro civil, não há diferença entre o concreto de uma central dosadora e o concreto de uma central misturadora, já que ambos são avaliados pelo parâmetro de controle da resistência característica à compressão (fck). Com ele, concordaram Jairo Abud (Abesc) e Maurício Bianchini (Engemix), com base nos resultados de rompimentos de corpos de provas de concretagens de obras das quais participaram. Dele, discordou o Prof. Bernardo Tutikian, para quem as diferenças na microestrutura de um concreto e outro importam para a qualidade final da obra. “O concreto da central misturadora é melhor porque a energia do misturador planetário é maior do que a usada no caminhão betoneira, garantindo maior homogeneidade do concreto. Além disso, o concreto não é alterado no transporte da central para obra, ao contrário do concreto da central dosadora, que recebe água adicional durante seu transporte”, ponderou Tutikian. Com essa ponderação, concordou o Eng. Carlos Massucato (Intercement) em sua apresentação, com a ressalva de que o problema da dosagem do concreto independe do equipamento, mas está ligado à capacitação técnica da equipe que faz a dosagem. A Mesa-Redonda fez uma homenagem ao Eng. Arcindo Vaquero y Mayor, recém-falecido, que estava previsto para participar dos debates e foi substituído pelo Eng. Jairo Abud.

Prof. Paulo Helene em sua intervenção na Mesa-Redonda

Seminário de boas práticas na execução

O Seminário “Boas Práticas na Execução de Estruturas de Concreto”, realizado conjuntamente pelo IBRACON e Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo) foi coordenado pelo vice-presidente do Comitê Tecnologia e Qualidade do Sindicato, Eng. Jorge Batlouni Neto, que abordou em sua palestra como assegurar a produtividade no canteiro de obras. Ercio Thomaz (IPT) procurou mostrar em sua apresentação os cuidados a serem tomados e os erros a serem evitados na execução dessas estruturas. Já, a Eng. Luana Scheifer (Engemix/Votorantim) apresentou os estudos comparativos e ensaios realizados com o concreto com adição de cristalizante para aplicação em estrutura sujeitas à pressão hidrostática, como cortinas de contenção de subsolos abaixo do lençol freático. Por sua vez, o Eng. Carlos Roberto Gomes do Amaral (Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo) apresentou os estudos de traços dos concretos usados nas fundações e algumas edificações do Labgene (Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica), em Aramar.

Eng. Jorge Batlouni neto em sua palestra no Seminário

Seminário de Novas Tecnologias

O Seminário de Novas Tecnologias apresentou estudos de casos de produtos, serviços e obras das empresas patrocinadoras do 60º Congresso Brasileiro do Concreto, como o Adensamix e Cristalmix, da Votorantim Cimentos, o Ductal, da Lafarge Holcim, a aplicação digital na planta de cimento da Apodi, os aditivos Clarena e Concera para concretos de alta fluidez e robustez, da GCP, as pequenas centrais hidrelétricas e as usinas hidrelétricas da Copel, e os centros tecnológicos para engenharia de barragem de Furnas.

Dam World 2018
A Terceira Conferência Internacional sobre Barragem (Dam World 2018) é evento científico mundial promovido pelo IBRACON e pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), de Portugal, realizado a cada três anos. Neste ano, a Dam World 2018 foi realizada como evento paralelo do 60º CBC e contou com a participação de 164 profissionais, sendo a maioria deles (82%) brasileiros.

A Comissão Científica da Dam World 2018, coordenada pelos Prof. Tulio Bittencourt (USP) e José Marques Filho (UFPR), e formada por 54 membros, recebeu 216 resumos e aprovou 152 trabalhos técnico-científicos. Desses, foram apresentados no evento 110 artigos sobre monitoramento e instrumentação de barragens, barragens de concreto e de alvenaria, análise e projeto de barragens, avaliação da segurança de barragens, modelagem de barragens, estabilidade, avaliação de risco, pequenas barragens, concreto compactado com rolo, sistemas de gerenciamento de barragens, operação e manutenção de barragens, entre outros temas.

Além disso, foram realizados na Dam World 2018 a Mesa-Redonda sobre Barragens de Rejeitos, com a participação de especialistas do Brasil (André Pacheco de Assis, da Universidade de Brasília, e Joaquim Pimenta de Ávila, da Pimenta de Ávila Engineering), do Chile (Caius Priscu, da Anglo American), de Portugal (Laura Caldeira, do LNEC) e dos Estados Unidos (Christina Winckler, da AECON), e o Workshop sobre Segurança de Barragens oferecido pela Associação Canadense de Barragem (CDA).

Momento do Workshop sobre Segurança de Barragens

Os inscritos na Dam World 2018 fizeram ainda visitas técnicas às usinas de Itaipu, Yacyretá (Paraguai) e Baixo Iguaçu (Paraná).

Lançamentos editoriais e reuniões técnicas

Completaram a programação os lançamentos de livros técnicos e da Prática Recomendada “Guia da Prevenção Álcali-Agregado, com sessão de autógrafos com autores e coordenadores, e as reuniões dos comitês técnicos e das revistas do IBRACON.

No balanço feito pela coordenadora do CT-304 Comitê IBRACON/ABCIC de Pré-Fabricados de Concreto, Eng. Íria Doniak, sobre as atividades dos comitês técnicos no evento e as reuniões realizadas: “Trata-se de uma oportunidade ímpar de inclusão de novos membros e também de divulgação das atividades dos comitês, que são de vital importância para contribuição com a normalização para a engenharia de concreto , para o desenvolvimento tecnológico e para a interação da academia com a indústria do concreto, possibilitando um maior oportunidade para pesquisa e desenvolvimento.”

Com essa extensa programação o IBRACON cumpre a sua missão institucional de levar conhecimento sobre o concreto aos estudantes, profissionais e intervenientes da cadeia produtiva do concreto. Ou como pontuou o presidente do Instituto Americano do Concreto (ACI), Eng. David Lange, na cerimônia de abertura, “como associações irmanadas, o IBRACON e o ACI têm a missão de servir à sociedade e elevar o padrão de vida da população por meio da divulgação de informações e do conhecimento sobre o concreto”.