CONCRETO & Construções | Ed. 92 | Out – Dez • 2018 | 21
Durante minha passagem na Promon
Engenharia, onde trabalhei por
vinte e seis anos, tive também a
oportunidade de atuar em grandes
projetos e conviver com notáveis
engenheiros. Dentre eles, gostaria de
destacar dois: Benjamin Ernani Diaz e
o falecido Dirceu de Alencar Velloso.
A estes dois em particular, devo
todo o desenvolvimento de minha
carreira. Na Promon, participei, entre
outros, do projeto da Usina Nuclear
de Angra, onde todas as estruturas
principais deveriam ser projetadas
prevendo carregamentos especiais,
com sismos, explosões, ruptura de
tubulações, etc. Isso me possibilitou
e inspirou a estudar assuntos como
Dinâmica de Estruturas, Interação
Solo-Estrutura e Análise Sísmica,
que foram temas de minhas teses de
Mestrado e Doutorado. Minha grande
fonte de conhecimento nestes temas
foi o grande engenheiro chileno,
Rodrigo Flores Coombs.
IBRACON
– O
que
motivou
o
surgimento
da
C
omissão
de
E
studos
da
A
ssociação
B
rasileira
de
N
ormas
T
écnicas
para
elaboração
do
texto
-
base
da
norma
brasileira
de
projeto
de
estruturas
resistentes
a
sismos
?
C
omo
o
grupo
foi
formado
?
S
ergio
H
ampshire
de
C. S
antos
– Na realidade, quando a NBR
6118 – Norma Brasileira de
Projeto de Estruturas de Concreto
- foi submetida à análise da ISO
(
International Organization for
Standardization
) para ganhar o
“status” de Norma Internacional, foi
colocada pela ISO a exigência de
que esta contemplasse a resistência
das estruturas de concreto em
situações de sismo e de incêndio.
Isso motivou a elaboração da NBR
15421 - Projeto de estruturas
resistentes a sismos, promulgada
em 2006. O grupo foi formado a
partir da própria comissão que
elaborou a versão de 2003 da NBR
6118, liderada pelo Prof. Fernando
Rebouças Stucchi.
IBRACON
– P
or
que
o
B
rasil
precisa
de
uma
norma
técnica
de
projeto
de
estruturas
resistentes
a
sismos
? Q
ual
é
o
escopo
de
aplicação
dessa
norma
(
geral
ou
especial
)?
S
ergio
H
ampshire
de
C. S
antos
– A
necessidade da NBR 15421 foi
bastante questionada, pois o Brasil
estaria isento de sismos importantes.
Porém, toda a teoria moderna de
segurança das estruturas é baseada
em métodos probabilísticos, nos
quais se avalia se a probabilidade
de ruptura estrutural se encontra
dentro de limites aceitáveis pela
sociedade. Desta forma, colocando
as exigências de segurança estrutural
no Brasil no mesmo patamar das
normas internacionais, se concluirá
que, ao menos em algumas regiões
do Brasil, a ameaça sísmica à
segurança estrutural deve ser
adequadamente considerada nos
projetos. A NBR 15421 a princípio
tem abrangência geral para todos os
projetos estruturais desenvolvidos
no Brasil. Observar, no entanto,
que algumas regiões do Brasil são
definidas como “Zona Zero”, onde
nenhum requisito de resistência
sísmica é exigido.
IBRACON
– Q
uais
as
fundamentações
e
requisitos
consensuados
nas
discussões
e
quais
os
estudos
geológicos
,
geotécnicos
e
estruturais
que
embasaram
o
projeto
da
norma
ABNT NBR 15421? H
ouve
dificuldades
para
se
chegar
a
esses
consensos
e
referências
? C
omo
elas
foram
superadas
?
S
ergio
H
ampshire
de
C. S
antos
– A
NBR 15421 é fortemente respaldada
em normas internacionais, como
a ASCE-07 (norte-americana) e
Eurocode 8 (europeia), e adaptada
aos requisitos gerais de Ações e
Segurança definidos pela ABNT
(Associação Brasileira de Normas
Técnicas) na NBR 8681. Desta
forma, dificilmente poderia haver
uma maior discordância sobre o
texto geral da Norma. Naturalmente,
a maior dificuldade foi a de conciliar
conceitos da ASCE-07 com os de
nossa base normativa, por exemplo,
na definição de coeficientes de
segurança, bastante diferentes nas
diversas escolas. A conciliação com
as normas estrangeiras e a definição
COLOCANDO AS EXIGÊNCIAS DE SEGURANÇA ESTRUTURAL NO BRASIL NO
MESMO PATAMAR DAS NORMAS INTERNACIONAIS, SE CONCLUIRÁ QUE, AO
MENOS EM ALGUMAS REGIÕES DO BRASIL, A AMEAÇA SÍSMICA À SEGURANÇA
ESTRUTURAL DEVE SER ADEQUADAMENTE CONSIDERADA NOS PROJETOS
“