Page 45 - vol5_n2

Basic HTML Version

1. Introdução
A construção civil é uma das atividades mais antigas que se tem
conhecimento e desde os primórdios da humanidade foi executa-
da de forma artesanal, gerando como subproduto grande quanti-
dade de resíduos de diversas naturezas. É também responsável
pelo consumo excessivo de recursos naturais provenientes de
fontes não-renováveis (Boldrin
et al.
[1]).
Entretanto este é um dos setores que apresenta maior potencial
para absorver os resíduos sólidos. A reciclagem dos resíduos de
construção na forma de agregados é uma importante alternativa
para a redução do impacto ambiental e para sua preservação (Oli-
veira
et al.
[2]; Levy e Helene [3]; John [4]).
A utilização do resíduo de construção e demolição na fabricação
de blocos de concreto e argamassas de assentamento é viável
tecnicamente, podendo ser utilizado na construção de habitação
popular (Farias
et al.
[5]). Bastos
et al.
[6] também salientam o
emprego do RCD em pavimentação de novas vias.
Segundo Ajdukiewicz e Kliszczewics [7] os resíduos provenientes
da reconstrução de rodovias e pontes feitas de concreto armado e
protendido, no Leste Europeu, depois de reciclados são emprega-
dos como agregados.
Segundo estudos desenvolvidos por Buttler
et al.
[8] sobre blocos
estruturais de concreto com agregados reciclados pode-se notar
que os blocos com agregados reciclados apresentaram menores
valores de massa específica e maiores taxas de absorção e índi-
ce de vazios comparativamente aos valores obtidos pelos blocos
de referência. Com relação à taxa de absorção inicial todos os
blocos satisfizeram os requisitos e os limites recomendados pela
literatura.
Fonseca e Junior [9] notaram que os agregados reciclados com
dimensão máxima inferior a 9,5mm podem ser utilizados não ape-
nas em concretos com consistência plástica, mas em artefatos de
concreto com abatimento nulo e boa resistência, com baixo con-
sumo de cimento.
Segundo Boldrin
et al.
[1] a substituição crescente dos agregados
naturais pelos agregados reciclados de construção civil, em con-
cretos empregados na fabricação de blocos, afeta a consistência
das misturas, havendo uma diminuição da fluidez. O agregado
miúdo reciclado apresentou uma absorção de água superior ao
agregado miúdo tradicional afetando diretamente as propriedades
mecânicas dos concretos. Concretos com porcentagens de até
60% de resíduos de construção parecem ser os mais indicados
para a utilização na fabricação de blocos de concreto.
Segundo Dafico
et al.
[10] os blocos de concreto produzidos com
agregados reciclados de construção apresentam uma variabilida-
de muito grande quanto aos resultados da resistência à compres-
são, entretanto observaram que, a melhor mistura é aquela em
que o cimento é misturado com o agregado na condição satura-
do superfície seca, seguido pela introdução e mistura da água de
amassamento contendo aditivo incorporador de ar.
A Resolução nº 307 do CONAMA (CONSELHO NACIONAL DO
MEIO AMBIENTE) estabelece diretrizes, critérios e procedimentos
para a gestão dos resíduos da construção civil, visando proporcio-
nar benefícios de ordem social, econômica e ambiental. Em 16 de
agosto de 2004, entrou em vigor a Resolução nº 348 do CONAMA
que altera o art. 3
o
, item IV, da Resolução CONAMA nº 307.
Considerando-se que os resíduos dessa natureza representam
um significativo percentual dos resíduos sólidos produzidos nas
áreas urbanas e que a disposição de resíduos da construção civil
em locais inadequados contribui para a degradação da qualidade
ambiental, os Municípios são os responsáveis pela gestão e desti-
nação ambientalmente correta de tais resíduos buscando a efetiva
redução dos impactos ambientais.
Segundo as Resoluções nº 307 e nº 348 os resíduos da constru-
ção civil são classificados em quatro classes:
I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como
agregados, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimenta-
ção e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos prove-
nientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações:
componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de re-
vestimento etc.), argamassa e concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-mol-
dadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas
nos canteiros de obras;
II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destina-
ções, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madei-
ras e outros;
III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desen-
volvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que
permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos
oriundos do gesso;
IV - Classe D - são resíduos perigosos oriundos do processo de
construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles
contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, re-
formas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e
outros bem como telhas e demais objetos e materiais que conte-
nham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.
No Brasil, as empresas de reciclagem separam dos resíduos
de construção, os seus contaminantes como madeira, plásticos
e metais não ferrosos manualmente e empregam o agregado
reciclado geralmente na construção de base para pavimenta-
ção e blocos de concreto de vedação. Países como Japão, In-
glaterra e Holanda substituem parcialmente ou totalmente os
agregados naturais pelos reciclados, devido a maior remoção
dos teores de contaminantes dos resíduos de construção (An-
gulo e John[11]).
1.1 Justificativa
Neste trabalho foi analisada a incorporação de resíduos de cons-
trução e demolição (RCD) em concretos empregados na fabrica-
ção de blocos vazados de concreto simples para alvenaria. O ob-
jetivo do estudo foi avaliar a influência da substituição crescente
de RCD, pela massa de agregados naturais presentes na mistura
de concreto, nas propriedades mecânicas dos blocos de concreto
segundo as especificações das normas brasileiras.
2. Materiais e programa experimental
Todos os materiais empregados na parte experimental da pesqui-
sa foram fornecidos pelas empresas da Região Metropolitana de
Campinas, tais como: cimento Portland CPV-ARI, areia de origem
quartzosa, brita de origem basáltica e resíduos de construção civil
reciclados na forma de agregados.
175
IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 2
R. C. C. Lintz | A. E. P. G. A. Jacintho | L. L. Pimentel | L. A. Gachet-Barbosa